Ainda me lembro da voz de Kid Vinil apresentando a banda Dexys Midnight Runners ao Brasil nos idos de 1983, em um programa de FM, quando ainda havia um gap temporal para os sucessos de fora chegarem ao país.
Era estranho para a época, pois havia uma pegada claramente pop, dentro do que se considerava mainstream, mas, ao mesmo tempo, uma âncora fincada na música celta, de origem folk, ainda distante de conquistar multidões. Violino e sanfona ganhavam espaços junto aos sopros em plena era do sintetizador.
A música celta e o talento de Kevin Rowland (cantor/compositor) eram capazes de tirar os Dexys Midnight Runners do rol das bandas passageiras para fixar pelo menos um grande hit: Come on Eileen, com frescor irlandês, estética proletária e um apelo dançante irreverente e bem construído.
Não durou muito. O ego de Rowland e os conflitos da banda levaram-nos ao fim pouco depois de 1985. Houve um certo revival nos anos 2000 e o grupo se manteve em evidência, dentro do manto cult, até poucos anos atrás.
Seja como for, Rowland nunca ficou satisfeito com o álbum Too-Rye-Ay, que levou a banda ao sucesso mundial em 1982. Andou revendo o disco e a alternativa chega agora ao público: Too-Rye-Ay As it should have sounded.
A revisão ocorre quatro décadas depois e vem cheia de bootlegs, reafirmando o soul europeu numa encruzilhada dançante, pós-punk, ligado às tradições mas, também, sujeito às instabilidades sentimentais da juventude. Uma combinação que mantém o disco vivo.
Há muito para se curtir neste lançamento, mostrando que a supervalorização do pop oitentista pode, enfim, recuperar um som que foi além do seu tempo. Sim, alguns hits - I’ll show you continua merecendo espaço nas pistas - dos Dexys Midnight Runners, com o naipe de metais chamando para dançar entre a alegria e a fragilidade, ainda não envelheceram.
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