Luiz Bueno e Duo Clavis lançam o álbum Magia Instrumental
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  • Foto do escritorRanulfo Pedreiro

Luiz Bueno e Duo Clavis lançam o álbum Magia Instrumental

Ex-integrante do Duofel, violonista radicado em São Paulo apresenta suas composições ao lado de Marcello Casagrande (vibrafone) e Mateus Gonsales (piano)


Londrina está voltando a ser cenário de grandes encontros musicais. Conhecido como integrante do renomado Duofel, o violonista Luiz Bueno vem à cidade para o show de lançamento do disco Magia Instrumental, com músicas próprias gravadas com os londrinenses do Duo Clavis. Ao lado de José Marcello Casagrande (vibrafone) e Mateus Gonsales (piano), o instrumentista e compositor radicado em São Paulo se apresenta no próximo dia 19 (sábado), no Cine Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85), às 20 horas. Um encontro inédito, proporcionado pelos desígnios prazerosos da música.


O show será um momento raro. Primeiro, pela recente carreira solo de Luiz Bueno, após mais de quatro décadas dividindo os violões com Fernando Mello no Duofel. Segundo, pela parceria com o Duo Clavis, firmada a partir de mensagens trocadas pelas redes sociais. A combinação de piano, vibrafone e violão cutucou a criatividade de Luiz Bueno, até que ele compôs, no improviso, nove músicas inéditas para a formação.


Natureza


Magia Instrumental registra as obras dedicadas ao Duo Clavis e será lançado como álbum nas plataformas digitais no dia 18 de novembro. A natureza orgânica das músicas levou Luiz Bueno a associá-las às plantas utilizadas pelos povos originários da Amazônia como rapé em rituais de cura. O feeling do improviso, carregado de experiências, lembrou os saberes ancestrais da floresta, exuberantes na delicadeza transcendente do imenso ecossistema.


Compostas em momentos de fluxo criativo, as nove faixas de Luiz Bueno encaixam-se perfeitamente à linguagem desenvolvida pelo Duo Clavis ao longo dos anos, com a espontaneidade conferindo fluidez à complexidade musical.


O disco é também uma celebração. Afinal, o encontro do Duo Clavis com Luiz Bueno - que se conheceram pessoalmente no estúdio - só foi possível porque os três músicos estavam dispostos a correr os riscos de uma produção nada convencional e, por isso mesmo, surpreendente.


Experiência

“Foi uma experiência enriquecedora no sentido musical, da sabedoria, da administração de uma carreira, da elaboração do projeto, da conceitualização de um álbum, da concepção de um trabalho consistente”, destaca Marcello Casagrande. A percepção é reforçada por Mateus Gonsales: “Gravar com Luiz Bueno foi, sem dúvida, uma experiência incrível. Ele, com o Duofel, rodou o mundo levando o nome da música brasileira, tocando em grandes festivais. Receber o convite para gravar um álbum com um músico desses é o sinal de que estamos no caminho certo”.


Com a singularidade característica do trabalho artesanal, Magia Instrumental também surpreendeu Luiz Bueno: “Quero parabenizar essa cidade, que sempre proporcionou grandes músicos. Os dois são excelentes, quebram tudo e executam as minhas composições com uma perfeição incrível”.


SERVIÇO

Show Magia Instrumental - Com Luiz Bueno (violão), Marcello Casagrande (vibrafone) e Mateus Gonsales (piano). Dia 19 de novembro (sábado), às 20 horas, no Cine Teatro Ouro Verde (R. Maranhão, 85), Londrina/PR. Ingressos à venda na plataforma Sympla (https://bit.ly/3UgAAyh) e nas bilheterias do Ouro Verde.


Patrocínio: Amadeus e Bravino. Apoio: Universidade Estadual de Londrina/Casa de Cultura da UEL, Rádio UEL FM 107,9, Crillon, Plugue!, Hemize, Visualità.



DEPOIMENTOS


José Marcello Casagrande (vibrafone)/Duo Clavis:

Para nós, do Duo Clavis, foi uma honra e uma felicidade imensa receber o convite do Luiz Bueno para gravar o álbum Magia Instrumental, com as novas composições dele. São lindas. É um álbum com um tema muito bonito, ligado à Floresta Amazônica, com a riqueza dos saberes dos povos originários. É uma música supersensível, com uma delicadeza e uma profundidade extrema. O convite era irrecusável. Além da experiência musical, de entrar fundo nas composições de Luiz Bueno, teve o contato com a experiência de toda uma carreira que ficou por muitos e muitos anos no cenário da música instrumental com o Duofel, viajando pelo mundo, tocando em tudo quanto é festival, gravando com grandes músicos, em grandes estúdios, fazendo um trabalho incrível e superimportante, principalmente para o violão brasileiro. Luiz Bueno é uma pessoa importantíssima nesse cenário. Ele já tinha o álbum, com as nove músicas prontas. A gente ficou um tempo preparando as músicas, e depois fomos direto para o estúdio. Gravamos no Space Blues, lá em São Paulo, com o grande Alexandre Fontanetti. É um estúdio premiado, com dois ou três Grammys, de qualidade e profissionalismo tremendos. Para a gente, foi uma experiência enriquecedora no sentido musical, de sabedoria, de administração da carreira, de elaboração de projeto, da conceitualização de um álbum, de um trabalho consistente. É uma experiência que o Duo Clavis vai levar para o resto da vida, fundamental em nossa formação como duo instrumental. Uma honra.


Mateus Gonsales (piano)/Duo Clavis:

Gravar com Luiz Bueno foi, sem dúvida, uma experiência incrível. Ele, com o Duofel, rodou o mundo levando o nome da música brasileira, tocando em grandes festivais. Receber o convite para gravar um álbum com um músico desses é o sinal de que estamos no caminho certo. Eu me lembro do dia em que o Luiz Bueno fez o convite para essa parceria. Marcamos uma reunião online, e ele, sem muita conversa, foi direto ao ponto: "Meninos, eu tenho nove músicas prontas e quero saber se vocês gostariam de gravar um álbum comigo". Estávamos eu e o Casagrande juntos, do outro lado, e, sem um olhar para o outro, falamos na hora: "Sim". A gente pensava que, um dia, tocaríamos juntos. Mas construir um álbum… Foi uma experiência incrível. Logo em seguida ele mandou suas composições e só disse uma coisa: "Divirtam-se, meninos". Foi o que fizemos.


Luiz Bueno (violão):

A história deste álbum é muito diferente. Já faz algum tempo que eu venho investindo em uma coisa que eu chamo de “música no fluxo”. Eu simplesmente vou para o estúdio sem música pronta. E me dou ao prazer de me divertir criando a música no estúdio, na hora. As nove composições deste álbum foram criadas assim, no fluxo, durante três dias seguidos. Gravei nove músicas que foram simplesmente saindo, como a gente numa conversa de bar com os amigos. Só que eu tinha uma proposta. Essas músicas eram para o Duo Clavis. Enquanto eu tocava, ouvia o piano e o vibrafone, que é uma formação da qual nunca participei. É uma novidade muito grande para mim, eu gosto é do novo, do inesperado. E, assim, eu criei as nove músicas. Elas têm nomes de rapés, que são uma medicina da floresta, dos nossos ancestrais da Amazônia. Eu consagro essa medicina há muitos anos, então eu batizei cada música com uma dessas árvores. O resultado foi simplesmente maravilhoso.


Na verdade, eu não escrevo música. E também não conhecia os dois músicos do Duo Clavis. Em maio deste ano, eu recebi uma mensagem do Marcello Casagrande manifestando a vontade de que eu participasse de um show com eles. Mas era só um desejo. E eu aceitei, queria ver o que é que rolava disso. O show não aconteceu. Depois, eles estavam participando de um edital aqui em São Paulo, do ProAc (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo) chamado Só Vibras, que privilegiava instrumentais de vibrafone. Eles foram selecionados, vieram para São Paulo se apresentar na Funarte. O projeto era liderado pela Lúcia Rodrigues, que é amiga minha. Mas eu não estava em São Paulo quando eles vieram. Ou seja, o encontro não aconteceu. Fiquei com aquela proposta na cabeça, viajando na sonoridade do piano e do vibrafone. Não fui buscá-los no Spotify, por exemplo. Continuei só na minha viagem. Quando foi em junho deste ano, me deu na telha: “Vou fazer um álbum e convidá-los, será que dá certo?” Aí eu sentei e compus numa terça, na quarta e na quinta-feira. Cada noite dessas, foram três músicas. Na sexta-feira, eu convidei-os para gravar. E falei: “Gente, eu não leio e não escrevo música. Se vocês toparem gravar comigo este álbum que eu compus para vocês, eu mando o que eu gravei, e vocês tiram e tocam aquilo que eu gravei. Depois eu crio outra coisa em cima. Essa é a “música no fluxo”. Se a gente pratica todo dia a música, a gente não precisa muito de inspiração. Claro que eu trabalho diariamente na música há muito tempo, então ela vai acontecendo. E essa “música no fluxo” faz parte de uma pegada contemporânea, de mídias digitais, onde as pessoas ouvem músicas em playlists e ninguém compra disco… Se ninguém compra disco e ouve só playlists, eu não vou ficar gastando muito tempo e dinheiro em estúdio e arranjos, músicos, isso e aquilo, para que ninguém ouça. Esse dinheiro nunca vai voltar, então vou para o estúdio criar a música na hora. É uma nova maneira de tratar a música, de me relacionar com a música e colocá-la no mercado. Em julho deste ano, eles (Duo Clavis) tiraram as músicas, executaram de uma maneira perfeita e mandaram para mim. Fui conhecê-los um dia antes da gravação, num domingo. A gravação começava na segunda-feira, no estúdio onde eu trabalho e faço gravações, o Space Blues. Lá tem um grande técnico de som, que é músico premiado com três Grammys Latinos, um profissional da gravação e da mixagem. Durante uma segunda-feira inteira eles mandaram o pau, gravaram as nove músicas, de uma forma muito visceral, muito juntinhos. E, no dia seguinte, uma terça-feira, eu fui lá e falei: “Agora vou estragar tudo o que eles fizeram”. E criei tudo na hora, com a energia de uma música muito pura. Eu vejo alguns momentos do álbum como a trilha de um filme. Magia Instrumental construído dessa forma, no fluxo, com uma força e uma energia maravilhosas. E quero parabenizar essa cidade que sempre deu grandes músicos. Os dois são excelentes musicistas, quebram tudo no que fazem, executaram as minhas composições com uma perfeição incrível e às vezes eu chego até a atrapalhar. Eu nem toco tanto, porque gosto de ouvi-los.


Tenho dois grandes incentivadores para a minha música, que são Egberto Gismonti, e o meu padrinho, Hermeto Pascoal, que sempre me incentivou e, desde os tempos do Duofel, falava para mim largar o baixinho. O baixinho é o Fernando, que é pequenininho. Aliás, acho que é da mesma altura que o Hermeto. “Larga o baixinho que a sua música tem que voar, cara, você tá muito preso no duo”. Na verdade não é bem isso. A música do Duofel é uma magia de duas culturas, e o Fernando é um músico autodidata como eu, também não lê, não escreve, e a música acontecia, a gente sentava para ensaiar e isso era um trabalho diário. Durante muitos anos, foi um trabalho diário de composição e prática de repertório, e a música saía. Então era difícil romper uma magia como aquela. Mas a pandemia botou um final no Duofel. Ficou difícil, porque as músicas são muito intrincadas, a gente precisa sentar e tocar todos os dias, não só para evoluir tecnicamente, mas também para manter o duo com uma unidade ímpar. É muito difícil e, principalmente, com dois instrumentos iguais. Muito embora o Fernando se utilizasse o violão de 12 cordas ou a viola caipira, com cordas de aço, eu também usava cordas de aço, mas sempre seis cordas ou quatro, no violão tenor, e também violões de nylon, nos quais uso afinações alternativas.


Aliás, o álbum Magia Instrumental é todo criado em cima de afinações diferentes. No disco, experimento várias delas. São afinações que eu faço de uma forma aleatória, buscando uma sonoridade. A busca pela sonoridade, pela minha autenticidade, minha verdade, o meu olhar como ser humano e como músico, foi o que chamou a atenção do Hermeto Pascoal. Ele sempre dizia para mim: “A sua música é diferente de todo mundo. Nisso a gente se parece. Sua música não parece com a minha”. Há uns 5 anos, ele me convidou para dar uma canja no meio do show. eu estava assistindo, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. Era ele e o Heraldo do Monte. Tinha uma guitarra e, no meio do show, o Hermeto me chamou para dar uma canja. Peguei a guitarra do Heraldo. A gente nunca tinha tocado, o Hermeto e eu. Com o Duofel, sim. Mas ele e eu, nunca. E nós tocamos, foi gostoso, prazeroso. Mas eu pensei: “Nossa, é hoje que ele vai me queimar no palco”. O Hermeto gosta de fazer isso, sabe? É um jeito brincalhão dele. Eu voltei para a plateia, depois da minha canja, e, quando acabou o show, eu fui lá para o camarim. Ele me deixou esperando um tempão, porque estava atendendo ao público. O Hermeto atende um por um, até o último. Quando terminou, ele sentou-se do meu lado, sem olhar para mim, com aquela coisa de nordestino, olhando pra frente. Ele falou pra mim assim: “Faz muito tempo que um músico não me surpreende no palco. Hoje você me surpreendeu. Larga o baixinho”. Esse é o Hermeto Pascoal, esse é meu querido padrinho.

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