Show de Arrigo Barnabé rejuvenesce uma obra sem idade
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Show de Arrigo Barnabé rejuvenesce uma obra sem idade

Atualizado: 4 de out. de 2022


Clara Crocodilo reapareceu transformada pelo encontro de gerações proporcionado pelo circulasons, projeto idealizado pela musicista Janete El Haouli


Texto: Ranulfo Pedreiro

Fotos: Rei Santos/circulasons



Havia muito o que comemorar na noite de sábado (1), quando Arrigo Barnabé surgiu com impressionante vitalidade no palco do Ouro Verde, em Londrina, pelo projeto circulasons: os 70 anos do Cine Teatro; os 71 do compositor; a imensidão criativa de sua obra mais icônica, Clara Crocodilo; o talento da banda Aminoácido; a casa tomada por um público afoito; o retorno visceral de Tetê Espíndola aos palcos; a voz jovem e destemida de outra Clara, a Striquer.


O show, que reinterpretou as músicas do disco Clara Crocodilo com arranjos inéditos, reuniu Arrigo e a banda Aminoácido. A obra ganhou o peso das guitarras, mas também se apresentou renovada, dinâmica e atual. Os arranjos originais continuam excelentes, mas o que se ouviu no Ouro Verde foram versões que revelaram aspectos nem sempre evidentes na concepção original.


Clara Crocodilo é uma obra única e inimitável da música brasileira. A renovação apresentada pela Aminoácido soube preservar aspectos fundamentais de músicas cuja complexidade exige intimidade dos intérpretes. E, justamente por conta dessa exigência, corria-se o risco do engessamento decorrente da preocupação excessivamente técnica.


Sabemos também que o humor na música nem sempre é compreendido, principalmente quando tomado pela ironia, dificultando a interpretação. O mérito do show foi justamente apresentar a espontaneidade imprescindível para que Clara Crocodilo ressurgisse com a devida importância.


Foi o que aconteceu. A banda agarrou a música pelos dentes e conseguiu uma extroversão rara diante da complexidade composicional. Incorporou a irreverência que fundamenta a obra e, por isso, conquistou segurança a ponto de se entregar à diversão, levando consigo o público.


O sucesso da apresentação pode ser medido pelas expressões de Arrigo, vibrante, feliz, emocionado. O show cresceu com a presença platinada de Tetê Espíndola, cantora singular e, por isso, rara. A sessão de valsas entre Arrigo e Tetê, ao piano acústico, foi de uma beleza lapidar. E mostrou também como a obra de Arrigo é ampla e variada, cultivando sutilezas capazes de afagar a alma.


Tetê, à vontade, com voz preservada no vigor e nas alturas, ajudou a extrair o melhor do encontro entre gerações. A troca de experiências fez bem para jovens de corpo e espírito, e transcendeu o palco, fazendo jus a um projeto que preza pela qualidade - e pela capacidade de fugir do óbvio.



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