Cris Crochemore e Tweed Smith, o blues da diversidade
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  • Foto do escritorRanulfo Pedreiro

Cris Crochemore e Tweed Smith, o blues da diversidade


O músico gaúcho Cris Crochemore conheceu a guitarra cedo e já se dedicava ao instrumento aos 11 anos de idade. Participou de algumas apresentações quando adolescente, mas foi ao conhecer o guitarrista Bebeco Garcia que Crochemore foi levado para a banda Garotos da Rua, que fazia sucesso na época e levou o jovem instrumentista a experimentar o cotidiano de viagens, apresentações e shows de tevê.


A experiência valeu a pena e abriu as portas para o blues. Hoje, radicado em Houston, Cris Crochemore é um músico de relevo no cenário de blues texano, tanto que venceu por duas vezes o Houston Blues Challenge, em 2019 (com Tweed Smith) e em 2020 (com trabalho próprio).


Cris Crochemore e Tweed Smith apresentam-se no Londrina Blues Festival nesta sexta (5) para mostrar que a mistura feita por brasileiros, norte-americanos e quem mais chegar é boa e bem vinda, desde que feita com profissionalismo e seriedade. Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla.


Confira, a seguir, a entrevista que Cris Crochemore concedeu à Máquina do Som:


Gostaria que você explicasse como a experiência com a banda Garotos da Rua ajudou-o, posteriormente, a se dedicar ao blues.

Cris Crochemore - Minha experiência com os Garotos da Rua foi muito importante na minha carreira, desde o início. Eu comecei a tocar guitarra bem cedo, com 11 anos de idade e, quando eu tinha os meus 17, por aí, eu comecei a tocar com o Bebeco [Garcia], numa época em que os Garotos da Rua estavam em transformação. O Justin Vasconcelos (guitarrista) tinha ido para os Estados Unidos. Então a gente, já no Rio de Janeiro, começou a tocar com algumas formações diferentes. Foi muito bacana e muito importante para mim, porque foi quando eu comecei a tocar profissionalmente. Eu fazia supletivo, na época, e minha rotina era sair do colégio e ir direto para o aeroporto. Viajava, às vezes, por semanas, para fazer o circuito, pois os Garotos da Rua eram muito requisitados e muito fortes na região Sul, de São Paulo para baixo. Na minha adolescência, eu tocava guitarra na escola, em saraus e festivais pequenos. E fui direto para essa experiência de fazer shows grandes. Os primeiros shows eram para muita gente, a banda estava bem em alta. Os Garotos da Rua, independente de ter sido essa banda importante, onde eu tive a experiência de começar, era um som que eu curtia muito, porque tinha rock e balada, mas sempre com uma ligação muito forte com o blues. O Bebeco, como guitarrista, tinha muita influência de blues, tocava slide, então desde muito cedo eu tive um contato com isso,com uma banda fazendo rock’n’roll popular, viajando bastante, gravando disco, fazendo programa de televisão, mas com referências diretas do blues, com guitarras, solos e tudo o


mais. Eu tenho isso como uma coisa muito válida na minha vida e na minha carreira musical.



Temos músicos brasileiros de blues se estabelecendo nos Estados Unidos com alto nível de profissionalização. Como os bluesmen brasileiros são vistos no exterior? Qual seria nossa contribuição para o blues?

Cris Crochemore - O Brasil sempre teve músicos de excelência em todos os estilos, e não é diferente no blues, o que dá um orgulho danado. Quando você faz uma música bem feita, é reconhecido, e vai para o lugar onde essa música faz parte da cultura de todo mundo desde sempre, e é reconhecido lá, isso é muito bacana, muito importante, eu tenho muito orgulho de estar fazendo o que estou fazendo no Texas e representando o Brasil. Na verdade, você é bem recebido sempre, digo por mim. É mais para somar, não tem aquela história da competição. Assim como eu sei que tem outros nomes da guitarra e do blues no Brasil, como Artur Menezes, Celso Salim e Fred Sunwalk, então é muito bacana, fico feliz de estar fazendo esse papel. Tem o lance do sotaque, de ser de uma cultura diferente, e estar trabalhando aqui de igual para igual com qualquer guitarrista local. Fico feliz de estar entre essa galera que está representando o Brasil aqui nos Estados Unidos.



Como começou sua história com a Tweed Smith? O estilo de vocês dialogam entre si, complementam-se?

Cris Crochemore - Foi logo que eu cheguei aqui [EUA], por intermédio de um amigo. Com ele, consegui entrar no meio da música em Houston. Ele resolveu montar uma banda com a Tweed Smith, que tem uma história muito bacana, foi backing vocal da banda War, do Eric Burdon, e a gente montou essa banda: Tweed Smith & The Internationals. A primeira formação tinha a Tweed e a batera, Tamara Williams, que são americanas. O resto da banda, era cada um de um lugar. Eu era do Brasil, o outro guitarrista era do Japão, o baixista era da Costa do Marfim, então deu uma mistura muito legal. Foi tão bacana que a gente participou da Houstoun Blues Challenge, que é um evento anual e faz parte do International Blues Challenge. A cada ano as cidades escolhem uma banda para ser representante num encontro mundial que acontece em Memphis. Em 2019, a gente participou e ganhou. Fomos para Memphis representar Houston com essa banda. A banda mudou um pouco, mas continua com a mesma proposta de misturar as experiências e culturas, sempre focada no blues e no soul. A gente gravou um EP nessa época, as músicas estão disponíveis nas plataformas, é um som que vale a pena conferir.



Como gênero cada vez mais universal, o blues vem interagindo com diferentes culturas. Como os bluesmen norte-americanos enxergam os estrangeiros que tocam blues?

Cris Crochemore - Em 2019, a gente, com essa banda completamente misturada, foi representar Houston em Memphis. Em 2020, já com a minha banda, ganhei a etapa de Houston com o meu trabalho. E fomos de novo para Memphis. Na competição, além de todas as blues societies dos Estados Unidos, que são muitas, existem muitas blues societies de fora do país, da Europa, do Canadá. A América Latina ainda não tem, mas já conversei com vários amigos, pois é uma coisa que poderia funcionar muito bem. Digo isso porque acaba sendo super misturado. O músico, por sua vez, está fazendo arte, gravando e tocando, e o objetivo é sempre tocar e expandir o máximo o seu trabalho, sempre viajando. Aqui nos EUA, não é diferente. Músico de blues quer fazer turnê fora do país. Então tem um mercado gigantesco dentro do país, com os festivais, inúmeras cidades que são muito fortes no estilo, mas a saída para fora do país também é muito importante.Faz parte vislumbrar essa saída para outras culturas. Assim como você vai mostrar o trabalho para fora, você fica aberto para quem vem de fora mostrar o trabalho e fazer uma conexão. Eu nunca tive nenhuma resistência por ser de fora, por ser brasileiro. Pelo contrário, isso sempre abriu portas e vejo acontecer com muita gente de lugares diferentes. Sempre tem um colorido, um suingue, um sotaque diferente para acrescentar. A grande maioria vê como uma adição. Claro que, como em todo mercado, vai pintar uma competição aqui ou ali, mas quando você está fazendo legal, já está engajado no meio, não é você ser de fora que vai fazer a diferença. Diferentemente dos superpuristas, eu vejo o blues como uma coisa muito ampla, que deu origem a todos os estilos que a gente consome hoje em dia. O blues que eu faço não é tradicional, é mais blues rock, e funciona muito bem. Eu não faço um blues com influências latinas, a gente toca o som que a galera faz aqui, tenho certeza de que ouvem com bons ouvidos, vamos dizer assim.




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