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Selva, um romance de pé no chão do violeiro Paulo Freire

  • Foto do escritor: Ranulfo Pedreiro
    Ranulfo Pedreiro
  • 1 de mar. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de mar. de 2022


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Novo livro, lançado pela Editora Bambual, retrata personagens em busca de si mesmos no coração do Brasil


Lá no sertão de Gameleira, em Minas Gerais, uma família sertaneja corre o trecho para sobreviver. Diante do solo rachado e da lavoura difícil, o jeito é ganhar a vida rumando para o sul. Logo, porém, o destino faz das suas, e os irmãos acabam se espalhando, cada qual em busca de conseguir, à sua maneira, um pouco de aconchego. Selva, o novo romance do violeiro e escritor Paulo Freire, é um livro de gente com o pé no chão e muita vontade de viver, embora a vida nem sempre seja farta em felicidade.


Selva é o apelido de uma jovem e inquieta paulista, capaz de agarrar o destino às unhas, nem que, para isso, precise sacrificar a própria identidade. Entregue às emoções e à ânsia de construir o futuro, Selva está em uma jornada pessoal. Busca a si mesmo, e sabe que o caminho passa pela zona rural, lugar de gente verdadeira, surrada pelo sol, e plena de sabedoria.



Na outra ponta, está Teó, moço atormentado por uma paixão secreta, que vive sem sapatos, carregando a terra nas unhas e na alma. Algo, porém, pode aquietar o espírito sobressaltado: a violinha, tanto a da mãe adotiva, Luduvina, quanto do amigo Zé da Lira. Onde tem viola, tem mistério, e Teó desconfia das artimanhas que Zé da Lira utiliza para pontear como ninguém. O jovem tem uma vida de atropelos, chegando a morar no porto de Ilhéus antes de reencontrar o próprio caminho.


A estrada aparece como elemento de ligação e distanciamento. Nas viagens, a infância é abandonada, as experiências da vida ganham corpo, os desejos proliferam com as possibilidades do destino em aberto, mas já rascunhado entre risos e lágrimas.


Cabe lembrar que Paulo Freire é jornalista e trabalhou profissionalmente em São Paulo. Teve formação em violão clássico, mas a literatura o levou a seguir os rastros de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas. Assim, viajando de forma livre e independente, o autor foi parar no sertão do Urucuia, onde conheceu o mestre Manelim, violeiro a quem o livro é dedicado.


A viola é um instrumento de muitas histórias. E logo elas foram ganhando espaço na obra do compositor/escritor, que se tornou um hábil contador de causos. Daí para colocar os causos em livro, foi um pulo. Contos, crônicas, diários e romances têm em comum o sertão, a natureza, o banho de mar e de cachoeira, coisas simples e tão importantes que a vida oferece. O canto misterioso do urutau, o voo dos papagaios, o rio que lambe a terra, a chuva que alimenta as plantas, o curso do Sol e da Lua. Tudo isso cabe dentro da viola - e dos livros - de Paulo Freire.


Nesta história, Selva ocupa um lugar particular. É, talvez, o livro mais lapidado do autor, com uma arquitetura engenhosa de personagens e uma narrativa marcada pelo ritmo ágil e cotidiano, ancorada na fala que carrega os humores de cada região. Paulo Freire é um observador, e sua vida itinerante, sempre de olho nos costumes, confere à narrativa uma verdade sólida, distante dos estereótipos.



Selva é um livro com desejos latentes, impulsos fortes e emoções abundantes. Tudo, porém, equilibrado pela narrativa sóbria e descritiva, sem apelações. A sinceridade das palavras é suficiente para reproduzir o turbilhão sentimental dos protagonistas. É o segredo da leitura fluente, capaz de prender o leitor até o final. Mais do que um romance sobre o sertão, Selva é um livro sobre gente e sua vontade infinita de ser feliz. Mesmo que, no meio do caminho, a sombra da morte carregue muitos ao redor.


Para completar a beleza de tantas histórias, Selva ganhou também trilha sonora. Ouça abaixo.


Selva - Romance de Paulo Freire. Lançamento com show do violeiro e escritor na quinta-feira (3), às 20h30, no Brasiliano Bar & Cozinha (R. Espírito Santo, 655), em Londrina. Bambual Editora, 2021, 368 páginas.




 
 
 

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