Time Lapse, segundo disco do Duo Clavis, celebra uma carreira de 10 anos
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  • Foto do escritorRanulfo Pedreiro

Time Lapse, segundo disco do Duo Clavis, celebra uma carreira de 10 anos



Marcello Casagrande (vibrafone) e Mateus Gonsales (piano) interpretam músicas próprias e versões de grandes compositores; disco foi lançado em 4 de junho; confira o show


Dia e noite se intercalam lá fora, enquanto dentro de casa as horas se arrastam com o isolamento provocado pela pandemia. Da janela, a vida parece passar rapidamente. Conectados ao cotidiano, Mateus Gonsales e Marcello Casagrande gravaram o segundo disco do Duo Clavis com o título de Time Lapse. O álbum será lançado em todas as plataformas digitais no dia 4 de junho com um show, às 19hs, pelo canal do Duo no YouTube. O CD terá distribuição nacional pela Tratore.


Misturando temas autorais com obras de compositores reconhecidos, Time Lapse marca o amadurecimento do duo londrinense formado por piano e vibrafone, intercalando obras autorais e de grandes compositores, um repertório costurado com a liberdade proporcionada pelo improviso. Os tempos pedem reclusão, mas a música do Duo Clavis não conhece restrições e alça voos panorâmicos capazes de aliviar a alma - sem contra-indicações.


Seis anos se passaram desde que o Duo Clavis lançou o primeiro disco, em 2015, interpretando temas instrumentais de diferentes compositores. Na época, o Duo ainda estava em busca de um repertório.


O novo disco chega quando o Duo completa 10 anos. E apresenta obras que já foram testadas inúmeras vezes no palco. A experiência e o entrosamento resultaram em uma linguagem própria, afeita aos mergulhos experimentais e, principalmente, capaz de transcender, com leveza e propriedade, os limites da partitura.


Time Lapse é um disco artesanal, com o cuidado de reproduzir a música feita ao vivo. Além dos temas autorais, como Song for Dani (Marcello Casagrande), O Artista (Casagrande/Mateus Gonsales) e TimeLapse2020 (Mateus Gonsales), há composições de Hermeto Pascoal (Montreux), Brad Mehldau (Always August), Letieres Leite (Casa do Pai) e Jesus A. Martínez Rodríguez (Alas de Mariposa). Em comum, as obras estimulam o improviso, elemento fundamental para a música do Duo Clavis.


Além do vibrafone e piano, o Duo conta ainda com as participações de André Vercelino (percussão), Filipe Barthem (baixo), Roger Aleixo (bateria) e Thiago Alves (contrabaixo). A banda colabora para o desprendimento, criando as condições ideais para que o Duo Clavis levante voo, pairando tranquilamente sobre as turbulências do cotidiano.





O segundo disco do Duo Clavis está saindo seis anos depois do primeiro. Nesse período, vocês tiveram muita experiência de palco e continuam crescendo dentro da formação. O que vocês estão descobrindo e como o repertório do novo disco foi selecionado?


Marcello Casagrande - Procuramos mesclar o repertório que já vínhamos fazendo nos shows com coisas autorais. A ideia é registrar a forma de tocar que fomos alcançando com o decorrer do tempo, com esse conforto e essa naturalidade. A intenção é tocar da forma mais livre e natural, construindo todos os cenários para o som e a improvisação rolarem. É uma busca que nós sempre tivemos para alcançar a criação de momento. O repertório que vínhamos fazendo tinha essa consistência. O disco, de certa forma, é uma cristalização dessas ideias.


Mateus Gonsales - Queríamos introduzir o autoral, mas não como uma obrigação. No autoral aparece bem essa liberdade que nós buscamos, essa linguagem criativa. Chegamos a um equilíbrio entre o autoral e grandes compositores como Brad Mehldau, Hermeto Pascoal e Letieres Leite, com Alas de Mariposa, quando estávamos numa vibe bem solta.


Vocês já escolheram uma música, mas na hora de tocar não fluiu do jeito que vocês esperavam?


Mateus Gonsales - Isso aconteceu. Tínhamos duas músicas para gravar e não gravamos. Mas o repertório tem a cara do que estávamos buscando. Pensamos bastante sobre colocar baixo e bateria. Costumamos tocar muito soltos nos shows, temos uma liberdade muito grande, que não queríamos perder.


Marcello Casagrande - Fizemos uma live uns tempos atrás com o Filipe Bathem (baixo) e o Roger Aleixo (bateria). Separamos um repertório e tocamos, não teve ensaio nem nada. E deu certo. A gente já vinha pensando em fazer com baixo e bateria.





O primeiro disco, mesmo com músicas de outros autores, já trazia uma conexão com o ouvinte.


Mateus Gonsales - Nós tocamos várias músicas de vários autores diferentes no primeiro disco. E, mesmo assim, mostramos uma identidade bem forte.


Marcello Casagrande - No decorrer da história do Duo, fomos encontrando músicas que funcionam bem. Teve essa seleção natural. Quando pensamos em um repertório novo, vamos naturalmente para um tipo de música que realça nosso jeito de tocar.


A primeira música do disco é O Artista, que vocês fizeram em parceria.


Mateus Gonsales - Começamos com uma autoral. Fizemos essa música para um filme do [cineasta e jornalista] Luciano Pascoal, que conta a história de um padre e seu irmão artista.


Marcello Casagrande - O documentário chama-se O bispo e o comunista.


Mateus Gonsales - Eu até acho a música do bispo mais bonita, mas a música do artista é mais libertadora e tem tudo a ver com o Duo Clavis. Gostamos tanto que começamos a tocar. Nós sentamos, vimos o filme e fizemos em conjunto.


Marcello Casagrande - O Artista representa também uma influência grande para a formação do Duo, que é o [pianista e compositor americano] Chick Corea. O ostinato rítmico de O Artista é baseado nas Children Songs que o Chick Corea fez. A influência do Chick Corea para a formação do Duo passou até para o repertório.





É uma relação não apenas com o Chick Corea, mas com a gravadora ECM, que trabalha muito essa questão da liberdade.


Marcello Casagrande - É o jazz mais europeu, que mistura música de câmara e improvisação com essa linguagem jazzística. Gostamos muito desses grupos da Noruega, dos países baixos, que fazem essa música mais livre.


Mateus Gonsales - Acho que a nossa busca e a busca da ECM são parecidas.


A segunda música do novo disco é Song for Dani.


Marcello Casagrande - É uma composição que eu fiz para minha esposa. Estava estudando vibrafone e compus um esboço rapidinho. Depois, eu fiquei estudando, é uma espécie de balada.


Mateus Gonsales - Tem uma complexidade rítmica, mas, ao mesmo tempo, tem simplicidade.


Marcello Casagrande - Ela tem um formato de standard, com tema e improvisação. A segunda parte tem uma harmonia relacionada ao [pianista e compositor americano] Thelonious Monk, no encadeamento dos últimos acordes. É apresentada de uma forma bem delicada, carinhosa.


Mateus Gonsales - A parte A é totalmente romântica, bem tonal.


Marcello Casagrande - Para a banda, fiz um arranjo de introdução um pouco diferente, para a estrutura não ficar tão certinha e criar algumas coisas inusitadas.



A terceira é do Brad Mehldau, Always August.


Marcello Casagrande - Vi um show do Brad Mehldau (piano) com o Joshua Redman (sax) em duo. E esse tema soou demais para mim. Achei a partitura no site do Brad Mehldau e comprei. Depois, fizemos uma versão para o Duo Clavis.


Mateus Gonsales - O Brad Mehldau e o Joshua Redman têm uma coisa que a gente adora, que é a liberdade. Têm tudo a ver com a nossa busca.


Marcello Casagrande - Harmonicamente, é bem legal, tem a linguagem do Brad Mehldau, com uma melodia lida. Funcionou muito bem, tem um groove muito legal e abre essas portas para improvisar. A estrutura da composição é fantástica.





Vocês gostam de ouvir o que vocês tocam?


Mateus Gonsales - Eu já escutei mais esse segundo disco do que o primeiro. Não fico escutando o que eu gravo, mas esse álbum eu escutei muito. De certa forma, acho que é uma resposta ao caminho que a gente está escolhendo.


Marcello Casagrande - Eu gosto de ouvir como se fosse um estudo. Desde que as masters e as mixagens saíram, eu ouvi muito mais do que o primeiro disco. Está no carro, onde eu vou eu ouço. E estou sempre descobrindo uma coisa ou outra que eu acho legal. Acho que ouço bastante até porque gostei do resultado.


Mateus Gonsales - Eu me cobrava muito, mas depois da pandemia é isso o que eu posso dar. Nossa proposta é honesta, não temos que provar nada. Este disco é muito real.


A quarta música é Alas de Mariposa, de Jesus A. Martínez Rodríguez.


Marcello Casagrande - É de um pianista e compositor mexicano. Tivemos contato por intermédio de um marimbista mexicano, o Javier Nandayapa. A gente se encontrou em alguns festivais, depois ele veio para Londrina. A gente combinou tudo antes dele vir. Ele mandou o áudio e as partituras. Gostamos bastante da música, tem essa coisa latina, mas com uma estética meio minimalista, com construções de padrões, uma repetição que vai construindo a estrutura da música bloco por bloco. E ficou no nosso repertório. Eu fiz a adaptação para o vibrafone e o piano cobre as notas mais graves da marimba.


Mateus Gonsales - Em Alas de Mariposa, fiz uma citação de Blue Bossa (do trompetista americano Kenny Dorham) no improviso.


Em seguida, tem Casa do Pai, de Letieres Leite.


Mateus Gonsales - A gente tocou essa música nos Estados Unidos, junto com um repertório bem brasileiro. O público adorou. A gente tocou de uma forma solta, é uma coisa complexa que parece fácil. Essa música é forte.


Marcello Casagrande - O público teve uma reação legal. Chama-se Casa do Pai porque tem essa linguagem afro-brasileira, que vem do candomblé, uma coisa do Letieres que tem a ver com o maestro Moacir Santos. Tem uma complexidade rítmica e uma coisa modal, lembra ao mesmo tempo Miles Davis e John Coltrane, com uma linguagem brasileira. É uma melodia simples, mas ritmicamente complexa. Como era a única participação do percussionista André Vercelino no disco, fizemos uma sessão de improviso para ele.


Como surgiu TimeLapse2020, que dá título ao disco?


Mateus Gonsales - É o reflexo de tudo o que aconteceu nesta pandemia. A gente via o dia amanhecer e anoitecer consecutivamente, como aquele efeito do time lapse, o mundo lá fora passando muito rápido, e a gente preso. A ideia da composição é muito parada. E, ao mesmo tempo, tem uma melancolia, entra um ostinato e fica um vai não vai, com uma harmonia que muda bem devagar. Passou um ano e não aconteceu nada.


Marcello Casagrande - É como se ela representasse a percepção do tempo, que mudou um pouco nessa pandemia. Essa quebra na rotina é como se fosse esses espasmos temporais. Ao mesmo tempo em que ela é bem contínua, as mudanças vão acontecendo de forma tão sutil que às vezes não se percebe que alguma coisa mudou. Tem participação do Thiago Alves no baixo e do Roger Aleixo na bateria.


Mateus Gonsales - A música foi feita pensando no timbre do vibrafone do Casagrande. E ele fez um solo lindo no final. Tem tudo a ver com a proposta do Duo. Quando acaba o tema, o contrabaixista sola. Aí não tem forma, não tem nada. Depois, ele entrega tudo solto para o piano, mas vou buscando o tema de volta. A música mostra o que estamos vivendo hoje.


Esse isolamento tem sido difícil para todo mundo, especialmente para os músicos, que têm uma relação forte com o palco, com as pessoas.


Mateus Gonsales - Na verdade a gente é isolado. Eu estudei sozinho, pesquisei sozinho. A busca é isolada, mas o resultado é para fora. Mesmo com a possibilidade de mostrar pela internet, eu me senti algemado.


Marcello Casagrande - É ruim, falta a interação com o público. A intenção do que a gente faz é tocar.


Mateus Gonsales - Perdemos essa frequência. Na internet, não acontece a interação. É como se eu estivesse estudando.





Por que vocês resolveram gravar Montreux, de Hermeto Pascoal?


Marcello Casagrande - É uma balada bonita demais. Ele compôs esperando para fazer um show no Festival de Montreux. Pediu para que o público ficasse quieto para ouvir. Com ela, encerramos o disco de forma bem tranquila.


Como é essa busca pela música? Por que fazer música em duo? Estamos numa época em que as pessoas estão precisando muito de significados, e a música de vocês está carregada de sentimentos e valores.


Marcello Casagrande - É uma coisa de autoconhecimento. Eu tive uma formação musical muito rígida, os professores berravam. Não é legal passar por situações opressoras no aprendizado. Mas eu descobri que tinha algumas limitações. Eu estudava percussão sinfônica, ia para o Rio de Janeiro, meu professor era da Sinfônica Brasileira. Depois, vi que a busca pela música é um autoconhecimento. No início, eu ficava muito nervoso quando ia tocar. Quando você erra, parece que o mundo acabou. O aprendizado das limitações, do autocontrole, de passar uma mensagem através dos sons, cativou o meu interesse pela música. Você expressa coisas que não consegue falar. Eu sentia muito a energia dos músicos que eu ouvia quando era mais jovem. Queria fazer uma música com essa liberdade. Alguns tinham histórias horríveis de vida, e eu via que eles conseguiam transcender para fazer o som. Vi que eu também sou um ser humano com limitações e qualidades. A música que faço com o Duo é a que tenho no âmago. É o que eu gosto de fazer. Com o Duo encontrei o resultado dessa busca.


Mateus Gonsales - Eu me identifico muito com o Casagrande porque a minha escola foi a erudita. Estudei 12 anos de piano erudito. Eu levava reguada na mão quando errava. Um dia, estava tocando com um amigo e comecei a improvisar em cima de Bach. Meu amigo falou: “Bach não se toca assim”. Eu estava curtindo improvisar sobre Bach e não podia. Tinha que ser de outro jeito. Isso foi muito forte para mim. Por quê? Durante um festival em Londrina, eu fazia piano erudito e ouvi um som rolando em outra sala, com os caras improvisando. Eu pensei: é isso que eu quero fazer. Acho que a busca do Duo é a busca do que não existe. Até a música popular tem regras pré-estabelecidas, e a gente questiona. Somos duas histórias parecidas que se encontraram em um gosto musical parecido.


J. Marcello Casagrande - Natural de Londrina, foi aluno do maestro Othônio Benvenuto e estudou percussão sinfônica com Luz D’Anunciação (OSB) no Rio de Janeiro. Graduou-se em Música pela Universidade Estadual de Londrina e fez mestrado em percussão na Universidade de Missouri - Columbia (EUA). É percussionista chefe da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina. Integra o Duo Clavis como vibrafonista desde 2011.


Mateus Gonsales - Natural de Londrina. Formado em Jazz e MPB pelo Conservatório Musical e Dramático de Tatuí; em produção fonográfica pela UNOESTE (Presidente Prudente) e pós-graduado em arranjo musical pela Universidade Estadual de Londrina. Foi aluno de Magali Kleber, Paulo Braga, André Marques, Mário Loureiro, Rafael dos Santos e Ian Guest. Estudou regência com o maestro Othônio Benvenuto e arranjo de big-band com Paulo Flores. Integra o Duo Clavis desde 2011.





Internet

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Instagram: @duo_clavis


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