Vou contar, sem o menor pudor, embalado pela audácia dos inconsequentes, um causo que insiste em voltar à memória.
Como envolve amigos, pescaria e bebedeira, acredito que as testemunhas estão sob Mas há muito tempo não se encontravam, ainda mais despidos de qualquer responsabilidade.
De repente, os trintões encontraram-se em pleno recreio da quinta série.
Dá-lhe cerveja. Até que, na terceira noite, a bebedeira proporcionou um de seus feitos mais estranhos.
A madrugada avançava quando um desconhecido entrou na chácara segurando um tatu pelo rabo.
-Pessoal, acabei de pegar! Alguém quer comprar?
Ninguém conhecia o cara e tão menos queria saber de tatu. Mas a curiosidade falou mais alto:
-Posso ver o tatu?
-Pode, é só segurar pelas patas.
O bicho estava cansado e acabou mijando um pouco no chão.
Na conversa, o visitante revelou-se fã de Elvis Presley.
O rapaz do violão tentou acompanhar:
-You ain’t nothing but a hound dog… Cryin’ all the time…
E o moço do tatu até levava jeito, levando-se em conta a bebedeira do povo.
Mas logo surgiu uma desconfiança, atrasada e ébria, sobre aquele estranho com um bicho vivo na mão. Aos poucos, sem atrito mas com firmeza, a rapaziada fez o sujeito se mandar. Com o tatu e o escambau.
Contrariado, o sujeito desapareceu na noite escura de Alvorada do Sul.
No dia seguinte, os amigos se despediram e retornaram à rotina família/trabalho.
Alguns meses depois, encontraram-se para uma breve cerveja.
-E o cara do tatu, lembram?
O dono da chácara não se aguentou:
-Rapaz, e não é que o homem era perigoso?
-Como assim?
-Importunou um agente de polícia na cidade e descobriram que ele era fugido de São Paulo.
-Ô louco! Qual o crime?
-Atentado. O apelido do sujeito é Bomba.
Silêncio... Não se ouvia falar dessas coisas no Paraná. Nem no Brasil.
-Como assim, o cara é terrorista?
-Procurado por atentado a bomba no metrô de São Paulo - disse o amigo advogado, com a certeza de quem havia lido o mandado de prisão.
O Elvis Presley do tatu estava preso.
Por um momento os amigos ficaram quietos, celebrando a vida.
Houve um pacto:
-Ninguém conta! Vai parecer história de bêbado!
Acabei de romper o trato.
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