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Foto do escritorRanulfo Pedreiro

Elvis Presley e o tatu


Vou contar, sem o menor pudor, embalado pela audácia dos inconsequentes, um causo que insiste em voltar à memória.


Como envolve amigos, pescaria e bebedeira, acredito que as testemunhas estão sob Mas há muito tempo não se encontravam, ainda mais despidos de qualquer responsabilidade.


De repente, os trintões encontraram-se em pleno recreio da quinta série.


Dá-lhe cerveja. Até que, na terceira noite, a bebedeira proporcionou um de seus feitos mais estranhos.


A madrugada avançava quando um desconhecido entrou na chácara segurando um tatu pelo rabo.

-Pessoal, acabei de pegar! Alguém quer comprar?


Ninguém conhecia o cara e tão menos queria saber de tatu. Mas a curiosidade falou mais alto:

-Posso ver o tatu?

-Pode, é só segurar pelas patas.


O bicho estava cansado e acabou mijando um pouco no chão.

Na conversa, o visitante revelou-se fã de Elvis Presley.


O rapaz do violão tentou acompanhar:

-You ain’t nothing but a hound dog… Cryin’ all the time…


E o moço do tatu até levava jeito, levando-se em conta a bebedeira do povo.

Mas logo surgiu uma desconfiança, atrasada e ébria, sobre aquele estranho com um bicho vivo na mão. Aos poucos, sem atrito mas com firmeza, a rapaziada fez o sujeito se mandar. Com o tatu e o escambau.


Contrariado, o sujeito desapareceu na noite escura de Alvorada do Sul.

No dia seguinte, os amigos se despediram e retornaram à rotina família/trabalho.


Alguns meses depois, encontraram-se para uma breve cerveja.

-E o cara do tatu, lembram?


O dono da chácara não se aguentou:

-Rapaz, e não é que o homem era perigoso?

-Como assim?

-Importunou um agente de polícia na cidade e descobriram que ele era fugido de São Paulo.

-Ô louco! Qual o crime?

-Atentado. O apelido do sujeito é Bomba.


Silêncio... Não se ouvia falar dessas coisas no Paraná. Nem no Brasil.

-Como assim, o cara é terrorista?

-Procurado por atentado a bomba no metrô de São Paulo - disse o amigo advogado, com a certeza de quem havia lido o mandado de prisão.


O Elvis Presley do tatu estava preso.


Por um momento os amigos ficaram quietos, celebrando a vida.


Houve um pacto:

-Ninguém conta! Vai parecer história de bêbado!


Acabei de romper o trato.

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