Natália Lepri e André Siqueira costuram voz e violão em Macramê
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  • Foto do escritorRanulfo Pedreiro

Natália Lepri e André Siqueira costuram voz e violão em Macramê

Atualizado: 30 de jul. de 2022


Antes de entrarem no estúdio-escola da FATEC-Tatuí/SP (estudioexperimental.wixsite.com/fatec), para gravar o disco Macramê, o multi-instrumentista e compositor André Siqueira virou-se para a cantora Natália Lepri e aconselhou: “Deixa o silêncio acontecer”. A conexão musical entre ambos resultou em um álbum delicado, com identidade própria, graças à liberdade interpretativa proporcionada pelos arranjos exclusivos.


Macramê (ouça abaixo o disco no Spotify) foi lançado nacionalmente pela Kuarup (kuarup.com.br) , gravadora consagrada, que tem em seu catálogo discos de Baden Powell, Cartola, Johnny Alf, Joyce Moreno, Raphael Rabello, Dino 7 Cordas, Sivuca, Taiguara e Xangai, entre outros. Com o lançamento, Macramê ficará disponível nas plataformas digitais (Apple Music, Spotify, Deezer).


Natália Lepri (voz) e André Siqueira (violão, violão barítono, flauta e viola) vivem em Londrina e têm uma farta carreira musical, refletida na confecção artesanal e sutil do álbum, marcado pelo respiro e pelo improviso, mas, principalmente, pela troca entre os dois músicos, intensa e aberta às possibilidades.


O repertório, capaz de inserir a brasilidade no contexto latino-americano, sustenta-se por si. Mas Natália Lepri e André Siqueira questionam, procuram, investigam, descobrem. Dessa forma, o trabalho ganhou uma qualidade orgânica, cheia de improvisos, que exigiu um registro capaz de retratar essa plenitude expressiva. A saída foi gravar ao vivo em um estúdio público dotado de equipamentos de ponta, na FATEC/Tatuí. Foram 13 canções registradas em dois dias com a espontaneidade dos concertos ao vivo.


Natália e André livram-se dos lugares estabelecidos - e confortáveis - para alçar voo, costurando um tecido melódico delicado e criativo, imprimindo as digitais do duo em canções intensas e reveladoras.

“Os arranjos são muito abertos, é uma troca muito fluida, um jogo de perguntas e respostas muito rápido. O trabalho tem uma identidade própria. O nome, Macramê, caiu como uma luva, porque parece que os nós vão sendo costurados com o tempo. É um disco com muito respiro, com silêncios e pausas, como o artesanato. Fiquei feliz com o resultado e espero que esse disco voe para vários e vários ouvidos”, destaca Natália Lepri, cuja carreira musical está ligada ao samba e ao choro.


“É uma ideia de contraponto, de costura. Muitas vezes a gente fica preocupado em fazer um acorde e esquece que existe esse universo de melodias. Muitas vezes a melodia, no grave do violão, junto com a voz, já basta para o acompanhamento. Esse trabalho é semi-aberto, cada vez que a gente toca, soa diferente”, destaca André Siqueira, professor do Curso de Música da UEL (Universidade Estadual de Londrina), explicando o desprendimento alcançado pelo duo.


Com dois singles já divulgados - Galho de Goiabeira e Paixão e Fé - Macramê é um trabalho feito em seu próprio tempo, mergulhado na cultura brasileira e marcado pela sublimação, quando a arte extrapola o racional para nos levar a uma densa e prazerosa viagem para dentro de nós mesmos.


O disco tem participação especial do percussionista londrinense André Vercelino.


Galho de Goiabeira, o fino do choro

O humor é uma das qualidades da canção brasileira. Com uma indisfarçável pitada de tristeza, carrega a espontaneidade cotidiana das ruas.

Essa complexidade é evidente em Galho de Goiabeira, gravada por Natália Lepri (voz) e André Siqueira (violão) para o disco Macramê.

Há humor na letra de Aldir Blanc, transformando as possibilidades românticas em encontros desastrosos, mas também no ritmo e na melodia espevitada de Raphael Rabello. É preciso dominar a canção para alcançar a naturalidade, evitando a caricatura.

O choro vem carregado pela volúpia rítmica do primeiro gênero genuinamente brasileiro, exigindo experiência e calibre do violão, mas também cuidado por parte da voz, uma vez que a melodia é ensaboada e tortuosa. Mas a interpretação intimista e certeira de Natália Lepri e André Siqueira faz tudo parecer tão fácil quanto provar um chope gelado em fevereiro.

Natália e André não andam pelos caminhos mais tranquilos. Gostam mesmo é das pirambeiras harmônicas, utilizando técnica e talento para transformá-las em simplicidade.

Assim, o choro-canção Galho de Goiabeira livrou-se das rasteiras que oferece pelo caminho, domesticado sem perder a malícia, sublimado pelas coisas boas da vida, revelando a atualidade do choro brasileiro e a qualidade apaixonante deste disco que já demora para sair.



Paixão e Fé: encontros e descobertas

Paixão e Fé, canção de Tavinho Moura e Fernando Brant, é daquelas obras que transcendem a própria música, assim como a força da fé é capaz de superar as mazelas da vida.

Carregada de simbologia popular, com melodia delicada, mas nada ingênua, a obra ganhou interpretação única por Natália Lepri e André Siqueira em Macramê, novo disco que deve sair em breve pela Kuarup.

Violão e voz vão além do solo e do acompanhamento, estabelecendo uma costura tecida pelo contraponto, capaz de valorizar ainda mais a melodia. Se a igreja da canção convida os fiéis para dialogarem com o divino, Natália Lepri e André Siqueira nos levam para além do que se ouve, ao universo de sons e sentidos ocultos, responsáveis pela força artística da música.

A voz limpa e direta de Natália condensa a emoção, certeira em cada nota, mas ainda assim cheia de descobertas. O violão de André, cujos harmônicos evocam os sinos, recompõe a obra em um arranjo feito sob medida para o canto. A comunhão proposta pela letra é concretizada na interpretação.

Da mesma forma que areia e pétalas são derramadas sobre as pedras frias da rua na procissão, a fé dá sentido aos desatinos da vida e suplanta as atribulações, enquanto a música traduz a alma popular.

Antes de ser lançado, Macramê já enche os ouvidos de paixão e sentido.


Repertório:

1) Elmo de São Jorge (Gabriel Cavalcanti/Roberto Dídio)

2) Autorretrato (Egberto Gismonti/Geraldo Carneiro)

3) La Pomeña (Gustavo Leguizamón/Manuel José Castilho)

4) Paixão e Fé (Fernando Brandt/Tavinho Moura)

5) Vozear (André Siqueira)

6) Galho de Goiabeira (Aldir Blanc/Raphael Rabello)

7) Los tres deseos de siempre (Carlos Enrique Aguirre)

8) Idade da televisão / Sonora garoa (Passoca)

9) Poeira morena (Nelson Ayres/Rodolfo Stroeter)

10) Leilão (Hekel Tavares/Joracy Camargo)

11) Voz (Sérgio Santos/Paulo César Pinheiro)

12) Ramo de delírios (Guinga/Aldir Blanc)

13) Tamba Tajá (Waldemar Henrique)




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